Lula, uma Improvável Sobrevivência
Recebi de minha mulher, de presente de aniversário, o primeiro volume da biografia de Lula, escrita por Fernando Morais. Nesse primeiro volume, o segundo só sairá em 2023, pouca coisa já não é de meu conhecimento, eis que durante 15 anos fui militante ativo do PT, ajudei a construir o partido e conheci todas suas entranhas, ou quase todas. Nesse livro, há poucos fatos desconhecidos por mim, principalmente aqueles aspectos da via crucis humana, que Lula percorreu com sua mãe e sua farta família de irmãos e irmãs, na miserabilidade da cidade grande. Foi surpresa para mim que nós dois, Lula e eu, habitamos o mesmo colégio Visconde de Itaúna, em 1959, na rua Silva Bueno, no bairro do Ipiranga. Eu tive uma fugaz passagem por lá, e Lula fazia parte do curso primário. Nunca nos encontramos, éramos ilustres desconhecidos um do outro: ele frequentava, ainda menino, o curso primário, no período da manhã e eu o científico, no período da tarde. Eu tinha 19 anos e ele era ainda um menino de calças curtas. A parte mais importante desse livro, sob minha ótica, é seu último capítulo. Fernando Morais disseca, com muita propriedade e auxiliado por técnicos, a sórdida campanha de destruição de Lula e de seu Partido, pelos meios de comunicação de massa. Jamais, repito, jamais, se viu algo tão avassaladoramente destrutivo em relação a uma liderança política e de seu Partido. Não há paralelo no mundo inteiro, na história política de qualquer liderança, que tenha sido alvo de tantos mecanismos de destruição de imagem, como foi Lula, pela grande imprensa. A Revista Veja, os jornais Folha de São Paulo, Estadão, o Globo, e as televisões Globo e Bandeirantes, e inúmeras ramificações desses veículos, assessorados, com certeza, por CIA, FBI e outros canalhas, passaram dias, meses, anos repetindo mentiras, calúnias, desprezo pelo líder trabalhista. Duas metáforas nunca me saíram da cabeça, diante da tentativa de destruição desse homem e de seu Partido: - Uma dessas figuras metafóricas foi o desastre de Brumadinho, com o desbarrancamento daquela represa, soterrando e destruindo vidas e natureza, pela massa de terra e dejetos. Aquele cenário dantesco se assemelhou ao que os meios de comunicação fizeram com Lula e seu Partido. Uma verdadeira avalanche de merda e lama sobre sua cabeça de líder. - A outra figura metafórica foi a barata de Franz Kafka, em seu livro Metamorfose, só sobrevivendo o inseto pelo conhecimentos dos canais de fuga e dos esconderijos subterrâneos daquele inferno. E Lula, como milagre, sobreviveu. Ninguém, num cenário assemelhado, se reergueria.. Seus seguidores, acampados em frente a sua prisão, durante quase dois anos, repetindo um gesto dos revolucionários escravos do Império Romano, lutando por sua liberdade, que gritavam em defesa de seu líder, EU SOU SPARTACUS, fizeram o mesmo, e abraçando e carregando seu líder nos ombros, repetiam: Eu sou Lula, Viva Lula, Lula Livre. Não só ali na frente da prisão isso ocorreu. Ele foi ao exterior e lideranças mundiais o saudaram da mesma forma e com a mesma honraria. Tal qual figura mitológica, renasce das cinzas. Liberta-se de grilhões, numa assemelhada repetição da figura de Prometeu, e derrota a ave que lhe devora o fígado, todos os dias. As figuras mitológicas servem para isso, para nos demonstrar as coisas improváveis da vida. Não sei se Lula é totalmente inocente: ele é humano. Pode ter se deixado manipular por seguidores próximos oportunistas. Não sei. A história dirá. Mas o atestado que lhe outorgam milhões de pessoas neste país e fora dele, fazem de Lula o mais improvável sobrevivente da história. Merece página maiúscula nos nossos livros, como verdadeiro demiurgo.
Observação: No primeiro volume dessa biografia, chamou-me a atenção de que José Dirceu sequer teve uma linha de citação. Não é um julgamento de minha parte. Apenas uma constatação.
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