Coral
Na metade da década de 1950, eu estudava o curso ginasial. Naquela época, a cadeira de música fazia parte do currículo escolar.
O ensino de música tinha a finalidade de aguçar a sensibilidade da alma e fazer avançar no campo da cultura, como arte suprema.
Tinha amigos alunos, filhos de lavradores, que se encantavam com aquilo. Vertiam lágrimas. No encontro de brutos com a música, vencia a emoção.
Tive duas professoras de música: a Dona Lígia e Dona Aracy. Suas aulas se bifurcavam em dois propósitos, com o auxílio do piano da escola: ensinar na leitura das partituras, com conhecimento das notas musicais e cantarmos no Coral.
O Coral era algo divino. Conseguíamos adentrar nas músicas selecionadas, clássicas e populares, com dezenas de vozes díspares, cada uma com sua entonação diferente, formando um todo homogêneo. O papel das mestras era dar àquele diversionista vozerio num uníssono cantar e emocionar as pessoas que ouviam. Era um coletivo.
Acabaram-se os corais. Os milicos fizeram a reforma de ensino e a música saiu dessas escolas. A cultura regrediu.
Se um coral ainda existisse e eu pudesse ser um maestro, ensaiaria um canto coletivo, que exprime todo nosso sentimento, e pediria a todos, uma imensa multidão, bem afinados, que me contemplassem com uma sonora melodia. FORA BOLSONARO. Seria mais bonita que a Aleluia de Handel.
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