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Unicidade de Comando

Há algo que as Forças Armadas conhecem muito bem: a Unicidade de Comando. E há algo que deveriam conhecer melhor: o Planejamento. Sem um ou outro, o fracasso militar é inexorável.

Os Regulamentos Disciplinares das três Forças Armadas deixam claríssima a linha de comando. Ali, soldado obedece e general manda. Nada se discute.

O STF estabeleceu num acórdão que as decisões plenas finais para combate à pandemia deveriam ficar a cargo de Estados e Municípios, simplesmente porque cada uma dessas instituições estariam mais perto do problema, em função da realidade cotidiana heterogênea das comunidades. Contudo, em nenhum momento, o STF determinou que a União, vale dizer o Ministério da Saúde, estivesse alijado ou alienado do problema, lavando as mãos, tal qual Pilatos.

O vício de só querer se conduzir através dessa doentia Unicidade de Comando fez com que esse Ministério, sob o comando do general Eduardo Pazuello se retirasse da linha de combate. Ou mando eu, ou que se lasque o resto, certamente pensaram o general e seu comandante, o capitão eleito.

Esses orelhudos nunca entenderam o papel MAIÚSCULO que esse Ministério ainda deveria executar, como órgão auxiliar às esferas municipais e estaduais. Planejar e executar era preciso, englobando o conjunto do país.

Não só orientações macro a respeito da pandemia para uniformizar condutas, obedecidas as particularidades regionais, mas principalmente para VIABILIZAR OS PROCESSOS DE COMPRAS de equipamentos e insumos. Eram tarefas indelegáveis para o maestro da orquestra. Ao invés disso, criaram-se, deliberadamente, VAZIOS DE CONDUTA.

Em razão disso, hoje assistimos a carência de tudo e a tragédia instalada.

Esse general Pazuello ( que não se esqueça pelo nome) teria sido demitido da mais simplória empresa, que tenha um Almoxarifado e um departamento de Compras. A Fábrica ou o Armazém já estariam fechados pela incompetência de gestão de estoque. Mesmo tendo feito cursos na Academia Militar, creio que esse general jamais tenha ouvido falar de Ponto de Chamada, Estoque Mínimo, Ponto Crítico de Estoque, Prazos de Reposição e outras tarefas concernentes à administração de Estoques, Compras e Suprimento das pontas, a famosa Logística.

Enquanto isso, morrem aos milhares todos os dias os doentes do nosso Corona Vírus.

O mais dramático, contudo, não é apenas a morte, mas a TORTURA PARA MORRER. Sem equipamento, sem anestesia e outros insumos básicos, as vítimas todas tem uma DOLOROSA E INACABÁVEL VIA CRUCIS para trilhar até nos deixar deste mundo.

Enquanto isso o capitão eleito trafega de moto nos jardins dos palácios, sem máscara, conversando com garis. Nunca essa foto reproduziu tão bem uma metáfora dos nossos tempos. A figura mais importante da República, contaminado pelo vírus,sem máscara, podendo contaminar os miseráveis da base da classe trabalhadora, com suas vassouras a postos - os garis.

E, ainda, enquanto isso, o general Ministro da Saúde vem à televisão para informar que dentro de uns 25 dias a licitação estará concluída. Só aí a compra dos equipamentos e insumos se consumará, com prazos de entrega de 30 ou 60 dias. Ou seja, chegarão aos defuntos, quando já tivermos atingidos mais de 200 mil, talvez 300 mil mortes resultantes de torturas individuais, sofridas, num escancarado espelho do que já ocorreu nos porões da ditadura, tão decantado pelos verde-olivas e de outras colorações de fardas.

Tudo me lembra um bombeiro que chega ao incêndio só para recolher as cinzas; ou um médico que chega à cabeceira do paciente para expedir a certidão de óbito, ou o cachorro correndo atrás do rabo, ou, ainda e finalmente, o profeta dos fatos já ocorridos.

Como será que se sentem esse capitão eleito e esses generais de comandos, quando colocam a cabeça no travesseiro? Não devem sentir nada, porque os que morrem são aqueles sem vez nem voz. E essas almas dos que comandam tem um estoque próximo de ZERO de humanismo e sensibilidade. Tal qual os estoques de insumos para atender aos MISERÁVEIS.


 o MANIFESTo DE LAURO:

 

Lauro Velasco é economista formado pela FEA-USP, mas também é historiador de mão cheia, administrador, educador e auto didata em uma gama de atividades, além de um grande pensador político e social.

 

Nesse espaço iremos abordar assuntos, temas, histórias com um enfoque social e político, mas ao mesmo tempo com uma linguagem simples e fácil de ser entendida e disseminada.

 

E com  esse Manifesto iremos trazer a tona assuntos espinhosos, mas com um tempero bem brasileiro.....

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