A Teoria dos Contrários

Sócrates, o filósofo, revolucionou a forma de pensar, até então, na Grécia Antiga. Por isso, foi condenado à morte, por insuflar os jovens de Atenas a uma espécie de desobediência civil. Teve que ingerir cicuta, um veneno que ia amortecendo de forma gradual o organismo, levando-o à morte. Era uma morte dolorida e penosa. Foi dado a ele a permissão de passar seu último dia com seus discípulos e sua mulher. Platão, seu maior seguidor, não estava presente naquele dia, tal a dor que sentiria por assistir a morte do mestre. Por isso, o relato de seu último dia de vida é feito por Fédon, seu também seguidor.

Nesse último dia, expulsou Xantipes, sua mulher, da cela onde estava preso, pois ela só fazia chorar, se lamentar e Sócrates entendia que esse tipo de dor não se justificava, ele que acreditava na reencarnação. Ele explicou a seus discípulos, porque assim pensava.

Começou estimulando seus próprios seguidores para com ele raciocinar e, assim, justificar seu pensamento.

Perguntava a um: Qual é o contrário da noite? O discípulo respondia: o dia; Qual é o contrário do negro? O branco respondia outro; Qual é o contrário da alegria? A tristeza, mais um outro respondia. Qual é o contrário do homem? A mulher. E assim ia seguindo para demonstrar que na humanidade tudo tinha seu contrário.

Nesse momento, perguntou a todos: Qual é o contrário da Vida? Todos responderam em uníssono: A Morte. E o contrário da Morte? A vida, também todos responderam.

Assim, Sócrates demonstrava que a vida não terminava na morte, porque a morte era a continuação da vida. O ciclo era contínuo, como os infinitos pontos de um interminável círculo.

Deixemos Sócrates de lado, curtindo sua eternidade.

Moisés, possivelmente com o Nazareno, tenha sido o maior e mais sábio judeu de todos os tempos. Depois de conduzir seu povo, saído da escravidão egípcia, em direção a Canaã, durante 40 anos, transitou pelo deserto e, além do decálogo recebido de Jeová, Moisés escreveu as Leis Mosaicas, dando a seu povo o direcionamento de conduta, quando chegasse à terra prometida. Moisés nunca lá chegou, morreu apenas ao avistar a terra, mas tudo estava escrito de como o povo deveria se conduzir.

Uma das mais importantes recomendações a seu povo foi que a A TERRA ERA D DEUS e que ela era entregue aos humanos para que dela tirassem o pão de cada dia e nunca passassem fome. Era PROIBIDO vender ou comprar terras, ter acúmulo de propriedades, pois isto era contrária à vontade do Senhor. Entendia que, assim, a justiça se faria no campo e nas cidades. Raciocínio idêntico ao proposto por Lenin, na Revolução Russa, só que Deus não era o proprietário, mas o Estado. Ou seja, com relação à terra, por efeito demonstração, Moisés foi um incontestável COMUNISTA, sem falar no Cristo, onde o mesmo espírito de comunhão e participação sempre estiveram presentes nas suas mensagens.

Se analisarmos a Bíblia, lá encontraremos várias manifestações no mesmo sentido. Peçam aos padres e pastores amigos que façam as pesquisas e, se cegos não forem, lá encontrarão textos comprobatórios ( Ver Levítico, 23 -23; Deuteronômio 27 - 17; Isaias 5 - 8 e 9 - Todos recomendações deste ateu) E, pela história da humanidade, tantos outros foram na mesma direção: Horácio, o poeta romano, os irmãos Gracco, maiores reformadores rurais do Império Romano, mortos, inclusive por isso, os revolucionários camponeses da Idade Média, a Revolução Rural na Inglaterra, com os descamisados reivindicando as terras comunais, a Revolução Francesa, sem necessidade de detalhar, as demais revoluções socialistas do século XX e por aí vai.

Todos, repito, todos esses movimentos sociais e políticos se hoje analisados pelo Bozo, pelos milicos que o assistem e pelos ministros que o acompanham, com certeza diriam que todos esses personagens e movimentos históricos, a começar por Moisés e pelo Nazareno eram COMUNISTAS. Imaginem o Weintraub descarregando sua ira.

Aí, alguns humanos, no seu reencontro com Sócrates ( nunca esqueçam de sua ressurreição), numa praça qualquer desta cidade, novamente reunido com jovens, mais os sem teto e os drogados sem esperanças, a ele questionavam, no melhor estilo antigo: Qual é o contrário do Comunismo, companheiro Sócrates?

Pego de surpresa, ele não teve resposta imediata.Talvez tenha concluído que nem tudo se responde de maneira tão simples e direta, pois transformamos o mundo de hoje em muita coisa sem resposta imediata. Depois de muito pensar, enquanto a plateia aguardava em silêncio, ele disse:

Há incontáveis contrários à ideia do comunismo, depois de tantas transformações ao longo da história. Mas, na essência, se identificam claramente como contrários à ideia de comunismo o real espírito de ganância dos humanos, a real e doentia acumulação de riquezas e propriedades, imaginando que as levamos para os túmulos, tal qual Moisés condenou, a disputa pelo poder em detrimento da solidariedade, a falta de comunhão entre os seres. Na síntese dos contraditórios identificados estava a perda do espírito coletivo, dividindo o mundo de acordo apenas com o umbigo de cada ser e seus interesses.

Aí disseram a Sócrates que, neste país, estavam estudando criminalizar o Comunismo, mesmo que ele existisse apenas no campo das idéias, colocando-o como CRIME na sua Constituição, ou seja, como vertente que levava os jovens e pensadores a subverter a ordem, ao lutarem por um mundo melhor, tal qual ele, Sócrates, tinha pregado e sido vítima no ano de 399 A.C.

Nunca mais viram Sócrates naquela praça, nem na cidade. Talvez tenha fugido com medo de uma nova dose de cicuta, eis que a cabeça daqueles milicos de hoje ainda não haviam saído do século IV - A.C.