Escravidão e Racismo
A escravidão foi e é a manifestação mais bestial do ser humano. É, sem dúvida, a maior comprovação de que o humano não é humano. Nenhuma besta da natureza é capaz de reproduzir o comportamento da besta humana.
A escravidão sempre existiu na história dos humanos. Desde os mais remotos tempos. Não vou ficar citando fatos históricos para não inflar este pequeno discurso.
A escravidão não escolheu cores, nem raças. Existiram sempre das formas mais cruéis imagináveis.
Contudo, a escravidão dos negros, por incrível que possa parecer, é a mais recente da história dessas bestialidades. Tem pouco mais de 500 anos. Até então, os escravos ou servos eram eminentemente brancos. Por terem sido vencidos nas guerras, por terem sido incapazes de pagar suas dívidas, por opções e perseguições religiosas e outros motivos milhões de brancos perderam sua liberdade e foram sobreviver mal e porcamente nos imundos recantos dos burgos, nas indescritíveis choupanas dos campos, nos serviços domésticos de seus senhores e outros infernos terrestres.
Porém, esses escravos e servos brancos, dentre eles muitos imigrantes europeus e japonenses, conseguiram se libertar, senão totalmente, mas grandemente das correntes que os prendiam. Os negros não.
A maior demonstração de que os negros não conseguiram se libertar plenamente até hoje é a marginalização e o racismo. E por que? Pelas características próprias da escravidão a que estiveram sujeitos na história.
Os negros foram capturados na África, num estágio civilizatório ainda muito primitivo de vida. Não foram os negros do norte daquele continente, como os antigos egípcios, os antigos bérberes, os antigos cartagineses, os atuais marroquinos e outros vizinhos. Foram, basicamente, os negros da África sub saariana para baixo. Ali, esse povo estava num estágio ainda primitivo civilizatório e de desenvolvimento. Tanto é que os próprios negros escravizavam seus semelhantes para lucrar. A história da escravidão negra nos reserva tantas dores, que se comprova fartamente que o humano não é mesmo humano.
Sabemos que os escravos que foram enviados para a Europa e para as Américas eram tratados pior que gado. Eram números, cabeças, não eram seres humanos. E assim permaneceram por todo o sempre, enquanto escravos.
As chamadas liberdades conquistadas pelos negros, nos vários países e continentes, foram arremedos de liberdades. Esse povo continuou atrelado a novo tipo de correntes, das quais até hoje não se libertaram. Sabemos que a liberdade não é apenas ausência de prisões. É muito mais que isso. E aí está o gênesis do racismo. Esses povos estão, no imaginário dos racistas, ainda muito assemelhados a animais primitivos. E suas condições econômicas e sociais, que ainda prevalecem na maioria das nações ex-escravocratas, aprofundam esse imaginário de ser inferior. Eles continuam, na sua grande maioria, à margem da vida plena. E, com muita tristeza, se constata que a cor de pele é, também, um carimbo dessa condição. Isso, apesar de tantos negros, serem destaques naquilo que fazem melhor que os brancos. Nessas cabeças doentes, não vemos os negros como irmãos.
Como muitos humanos continuam desumanos, há ainda um longo tempo e caminho para aceitarmos que esses negros são também nossos irmãos e que precisamos ampará-los, protegê-los.
Nunca saldaremos as dívidas que o passado colocou nas costas dos brancos em relação aos negros, mas é tempo de nos humanizarmos, pelo menos um pouquinho e aceitarmos os negros como irmãos, que efetivamente são.