Mãe
Perdi minha mãe, quando tinha pouco mais de três anos de idade. A lembrança dela está à cabeceira de minha cama, onde está um retrato seu, que mostra a linda espanhola que foi. Depois tive muitas mães. O que menos me faltou na vida foram mães. Minhas irmãs me criaram como mães. A segunda mulher de meu pai, que não gosto de chamar de madrasta, terminou de me criar. Até tias e donas de pensões foram, com certeza, algumas mães complementares. Sem falar da inesquecível sogra. Perdi todas essas mães, para minha profunda tristeza, sem nunca ter-lhes dado um presente. Nunca foi, contudo, ingratidão. É que não acredito em presentes como homenagem. Resta uma última, que além de mãe, é minha mulher há quase 60 anos. Espero ir embora antes dela, para que não fique órfão outra vez. E esta foi e é a mãe com quem vivi feliz por toda minha vida e teima em não me deixar. Veja, a ela nunca precisei dar presentes. Nunca me pediu.