top of page

O Suicídio

Flávio Migliaccio foi, sobretudo, um homem de teatro, formado e convivendo, quando vivos, com gigantes dessa arte no Brasil, como Chico de Assis, Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri. Esses mestres eram, sobretudo, humanistas de esquerda e defensores de uma sociedade mais igual, justa e equilibrada. Flávio bebeu dessas fontes, durante toda a vida e construiu sua linha da vida com os mesmos princípios de seus mestres. Há milhões de Flávios neste país. Aos 85 anos, viu desaparecer de sua alma a esperança de tudo aquilo por que lutou para construir na vida. Não só isso. Atestava, toda vez que atuava na sua última peça, a desesperança completa, o sonho destruído. Era um testemunho vivo do sonho perdido. Seu bilhete/carta testemunho deixa tudo isso muito claro. Algumas pessoas de formação religiosa entendem que o suicídio é um gesto incabível na alma humana. Os espíritas, principalmente, reservam castigos severos a quem se suicida. Eu,como ateu confesso,não partilho dessa opinião. O ato de suicídio, nas condições em que Flávio o exerceu, foi o último gesto de soberania, o último grande gesto de acusação e protesto, sobretudo para aqueles que mataram sua esperança - o maior dos sentimentos humanos, depois do amor. Num romance de Goethe "Os sofrimentos do Jovem Werther", o personagem principal se suicida por um amor inalcançável. Esse fenômeno gerou um efeito cascata de suicídios no século XVIII, fazendo, até, com que a igreja proibisse o livro por muitos anos. Não creio que o gesto de Migliaccio reproduza esse efeito, mesmo tendo sido inalcançável seu amor pelos seus semelhantes, seu propósito de vida. Tenho total convicção de que esse gesto e sua denúncia entrem para livros de história e será sempre um lembrete vivo de NOSSA LUTA de cada dia, como o pão nosso. A leitura de que Flávio deixou o inimigo vencer com seu suicídio é equivocada. Ao contrário, sentimos que sua morte é a luz que se acendeu para nos dizer: a esperança de todos PRECISA ESTAR VIVA, não pode morrer. Flávio a iluminou, com seu gesto, serviu de combustível. Por que? Porque nos deu um murro na alma e nos disse, no mesmo bilhete/carta testemunho, : "salvem as nossas crianças", vale dizer, MANTENHAM A ESPERANÇA QUE PERDI.


 o MANIFESTo DE LAURO:

 

Lauro Velasco é economista formado pela FEA-USP, mas também é historiador de mão cheia, administrador, educador e auto didata em uma gama de atividades, além de um grande pensador político e social.

 

Nesse espaço iremos abordar assuntos, temas, histórias com um enfoque social e político, mas ao mesmo tempo com uma linguagem simples e fácil de ser entendida e disseminada.

 

E com  esse Manifesto iremos trazer a tona assuntos espinhosos, mas com um tempero bem brasileiro.....

 Siga o lauro: 
  • Facebook B&W
 POSTS recentes: 
bottom of page