A Face Oculta da Tragédia
O surgimento do Coronavírus faz o planeta viver uma tragédia não anunciada. Há quatro ou cinco meses atrás, ninguém poderia imaginar o caos que se vive nos dias de hoje, no mundo em geral e neste país em particular. Essa tragédia, na minha opinião, tem duas faces: 1) Aquela que é anunciada diariamente nos meios de comunicação, com os números de mortos, infectados e suspeitos; 2) Aquela que não é noticiada, porque seu público vítima não faz parte das estatísticas. Explico. Ao ver os noticiários de televisão, ouvir os das emissoras de rádio, ou ler os jornais, ficamos a par dos números crescentes de vítimas e de suas potenciais vítimas, aqui e no exterior. Fora do país, não sei como se comportam essas estatísticas. Aqui, paira na minha cabeça a dúvida, se esse universo informado de vítimas e de potenciais vítimas corresponde realmente ao TODO. A análise das informações se sustentam em números originados de hospitais que atendem a Classe Média e a Classe Alta. São pacientes que, na sua imensa maioria, tem Planos de Saúde e são assistidos em hospitais classe A e B. Sabemos que, para pagar um plano de saúde, há que se ter um nível de renda elevado. Um Plano de Saúde de nível A custa mais do que a maioria dos trabalhadores recebem de salário por mês. Como essa gente, que não pode pagar, é cuidada? Pelo SUS? Sabemos a realidade do SUS. Sabemos a realidade dos hospitais públicos. Tive essa experiência há um ano e meio atrás, entrando em filas desses hospitais, nas madrugadas, para TENTAR ser atendido. É um caos, um desespero. Assim tenho séria desconfiança de que o número de vítimas mortas ou infectadas pelo Coronavírus seja aquele informado pelos meios de comunicação, informes esses derivados de entidades de saúde. Como estão morrendo os miseráveis da periferia, os drogados e desabrigados do centro de São Paulo, daquela massa de povo que aglutina uma enorme prole em minúsculos cômodos de construções precárias nesta e em todas as cidades do país? Tenho certeza de que essa gente não faz parte da estatística. Não ter plano de saúde é quase como não ter certidão de nascimento. Portanto, creio que não fazem parte das estatísticas, morrem no anonimato. É a face oculta dessa tragédia, e, talvez, jamais iremos conhecer seu verdadeiro retrato. Nesses momentos, fica claro o CRIME que é a política liberal pública de saúde, neste país, DESDE SEMPRE, onde os governantes mais se preocupam em reduzir despesas, com o maldito equilíbrio fiscal do que, de fato, atender ao povo.