top of page

Metáforas

A metáfora é uma figura de linguagem que associa duas coisas por meio de uma característica comum. É, também, algo muito além disso: associa fatos que traduzem efeitos que podem ser assemelhados. As metáforas são fartas na literatura, no teatro, no cinema, e, sobretudo, nos acontecimentos da vida cotidiana. Imperceptivelmente, no dia a dia da sociedade humana, ocorrem fatos concretos que podem traduzir fantásticas metáforas. Leitores da Bíblia de todas as crenças jamais poderiam imaginar que o Jardim de Éden retrata uma grande metáfora, qual seja aquela que enfoca uma natureza vicejante, construída depois de bilhões de anos, na vida primeva, sem, portanto, a presença sempre destruidora do ser humano. Aliás, a Bíblia é uma constante construção de metáforas, e a figura de Deus é a maior delas. Nos dias de hoje, se encontram incontáveis fatos que traduzem, por si só, tragédias monstruosas, que contém dentro de si seculares metáforas. No último sábado, minha mulher me levou ao teatro para assistir uma peça, da qual ela faz parte do elenco, e cujo título é "Me Dê Sua Mão". É uma grande e triste metáfora dos dias atuais, mostrando, inicialmente, um grupo de humanos exibindo conflitos entre si, dissociados uns dos outros, cada um com seu drama, seu individualismo, seus desvios comportamentais, enfim tudo aquilo que assistimos nestes tempos modernos dos seres humanos. Metaforicamente, os membros desse grupo ficam soterrados nos escombros de um edifício desmoronado, em plena escuridão, com apenas lanternas de celulares alimentando a parca luz nas trevas. Uma das personagens, grávida, que ia para o hospital, é assistida coletivamente no seu parto e dali gera uma criança, uma menina. Do esforço inútil dos bombeiros, só se salva aquela criança, que é resgatada por uma pequena fenda nas estruturas das lajes desmoronadas e acolhida nos braços de uma bombeira, com fisionomia de uma alma boa e pura, cabelos brancos e ar maternal, portanto, salvadora. Ficou a metáfora de que só se dando as mãos aqueles seres salvaram a espécie humana, na figura da criança resgatada. É tudo um simbolismo da necessidade de repensar o viver, sem os vícios, o individualismo, os desvios comportamentais. Assume-se o princípio de Rousseau de que o meio deforma o ser humano, que nasce puro. Aquela criança, no colo daquela bombeira, é um símbolo de um renascer esperançoso. Isso é uma metáfora. Os episódios de Brumadinho, dos desmoronamentos e incêndios dos prédios em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Fortaleza, os incêndios da Amazônia, a poluição dos rios e dos mares dos últimos tempos, com as cenas chocantes de massas disformes de petróleo agredindo a natureza, os peixes e os animais, e tantos outros desastres remotos e recentes são tragédias inesquecíveis e imperdoáveis Cada uma delas traduz uma metáfora. Como dissociar o rompimento de uma barragem com uma mensagem de desídia, de desinteresse, de ganância, de desrespeito a todos os valores humanos, sobretudo à vida, e só se preocupar com o lucro? Como não atrelar as demais desgraças vividas e acima relatadas como exemplos com metáforas gigantescas de tudo o que deviam definir nossas vidas? Como não associar a metáforas tristonhas todos os demais absurdos que nos acompanham na vida pública deste país, no campo da política, da economia, da educação, da saúde e na amplitude dos desastres sociais da violência e da fome? É uma triste realidade dos fatos, uns atrás dos outros, trazendo novas e contundentes metáforas, aqui e no resto do mundo.

 o MANIFESTo DE LAURO:

 

Lauro Velasco é economista formado pela FEA-USP, mas também é historiador de mão cheia, administrador, educador e auto didata em uma gama de atividades, além de um grande pensador político e social.

 

Nesse espaço iremos abordar assuntos, temas, histórias com um enfoque social e político, mas ao mesmo tempo com uma linguagem simples e fácil de ser entendida e disseminada.

 

E com  esse Manifesto iremos trazer a tona assuntos espinhosos, mas com um tempero bem brasileiro.....

 Siga o lauro: 
  • Facebook B&W
 POSTS recentes: 
bottom of page