Irmã Dulce
Escrevi um livro, "Meu Embate Com Deus", lido por apenas meia dúzia de amigos. Nesse livro, me declaro um ateu, agnóstico e crítico de Deus e sustento o fato de que o ser humano não é filho de Deus, mas Deus é filho do ser humano, de suas incertezas e medos. No entanto, nesse livro, há um capítulo, cujo título é: "Almas Boas e Más Não Dependem de Deus Nem do Demônio", onde eu defendo a tese de que almas boas dos humanos não precisam de Deus para fazerem o bem. Dou como exemplo algumas figuras santas da humanidade em todos os tempos e enumero especificamente algumas, entre as quais estão a Irmã Dulce, a Madre Tereza de Calcutá, São Francisco de Assis, Zilda Arns, seu irmão, o Cardeal Arns, Dom Helder Câmara e outros. E pergunto no meu texto: Esses seres humanos precisavam acreditar em Deus para fazerem o bem? Não. A qualidade moral de cada um independe de sua crença, que lhes foi imposta. Exatamente por isso, esse mesmo Cardeal D.Evaristo Arns reuniu em sua catedral todas as figuras máximas de todas as religiões deste país e, em comunhão com eles, rezaram uma missa em homenagem a Vladimir Herzog, um judeu, mostrando aos militares da ditadura de 1964, que estava na hora de parar com o arbítrio. Eu estava lá. Todos foram iguais naquele dia e naquela igreja. Hoje leio notícia de que o capitão eleito comunica ao Vaticano que não comparecerá à cerimônia de canonização de Irmã Dulce. Quem, como eu e minha mulher, visitamos as obras do hospital e asilo que essa freira montou em Salvador, na Bahia, para atender os desprotegidos, vê, na atitude desse presidente, o que há de minúsculo na sua alma, para nada entender o espírito de comunhão que deve pairar acima das diferenças dos templos. Isto dito por mim, que, um dia, escrevi um livro, cujo título é "Meu Embate Com Deus", onde desço o pau em todas as religiões. Mas não sou cego a ponto de não me render a figuras como essa Irmã, mesmo continuando com minha descrença em qualquer ser superior, que não seja o próprio Universo.