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A História de Creso

Creso reinou na antiguidade, durante o período de 560 a 546 A.C, no reino da Lídia, um império vizinho da Pérsia, hoje Irã e da Babilônia, hoje Iraque. Era um reino muito rico, em razão das fartas jazidas de ouro encontradas em seu solo. Foi o primeiro reino a cunhar uma moeda em ouro. Creso era um sujeito estranho, personalista, julgava-se o centro de tudo, achando-se o homem mais feliz e rico do mundo até então conhecido. Para mostrar tudo isso, convidou Sólon, o sábio governante de Atenas, na Grécia, para visitá-lo e para dele ser testemunho. Sólon aceitou. Creso mostrou ao visitante todas as suas riquezas e a alegria do reino e perguntou a Sólon se ele conhecia alguém mais feliz do que ele. Sólon ponderou e disse que a felicidade não podia ser mensurada e que ele sabia de muitas outras pessoas felizes, exemplificando uma delas através de uma família, dele conhecida, em que todos os seus membros eram extremamente felizes. Não se dando por vencido, Creso perguntou a Sólon, mediante toda riqueza exibida, se ele o considerava o homem mais rico da Terra. Sólon disse que não poderia assegurar aquilo, que somente poderia julgar sua riqueza no instante de sua morte, eis que a fortuna poderia se esvair pelos dedos, em função do capricho do destino de cada um. Irritado, Creso despachou Sólon de volta para Atenas. Havia uma permanente tensão entre os reinos da Lídia e da Pérsia pelo poder na região. Creso, consultando os deuses do Oráculo, recebeu deles um prognóstico de que, caso entrasse em guerra com a Pérsia, um grande reino deixaria de existir. Com a cegueira dos poderosos, Creso aliou-se ao Egito, à Babilônia e a outros pequenos reinos da região e entraram em guerra contra a Pérsia, governada por Ciro II. Foi fragorosamente derrotado, destruindo seu reino e feito prisioneiro. Levado amarrado a uma fogueira, onde seria sacrificado, assistido por Ciro, ouvia-se o desgraçado gritar: Ah! Sólon, Sólon, Sólon...... Ciro, querendo saber o que ocorria, determinou que trouxessem Creso a sua presença para saber o que falava. O prisioneiro contou o que ocorrera durante a visita de Sólon à Lídia e sua surdez em não ouvir seus conselhos, bem como em não entender as advertências dos deuses, identificando seu reino e não o da Pérsia como fadado ao desaparecimento. Ciro, sabiamente, transformou Creso em seu Conselheiro e este lá viveu até sua pacífica morte. Essa lição ocorre sempre na história da humanidade. A todo momento. Aqueles que leem podem identificar inúmeros impérios desaparecidos ao longo dos tempos. Incontáveis indivíduos e famílias, detentores de riquezas e poderes gigantescos, se perderam no tempo. Nunca aprenderam que "tudo o que é sólido se desmancha no ar" , como já afirmava o velho Marx. E que "viver é muito perigoso", como atestava Riobaldo em " O grande sertão: veredas". Neste país, incontáveis exemplos se ajustariam à história de Creso. Famílias, ditadores, militares, banqueiros, governantes em mil cenários diferentes transitaram pelo poder e pela desgraça. Restrinjo-me a apenas um, que mostra um líder saído do poder com mais de 80% de aprovação pelo povo e hoje, alcançado pelo infortúnio de mil facetas, se encontra na ilha das Ostras, cumprindo sua pena imposta pelo destino, por seus desafetos e pelo conluio de poderes e interesses que o derrotariam. Ele próprio reconheceu algumas de suas falhas, mas jamais imaginou que gerava tanto ódio de classe e fosse vítima de tantas traições de cenários tão distintos. Ontem, domingo, fui ao cinema, com minha mulher, na Av.Paulista e, depois da exibição, vi uma pequena multidão com pessoas enroladas na bandeira nacional, desde o dono do puteiro até o banqueiro, não muito distantes um do outro, em todos os sentidos, destilando um ódio incompreensível contra o inimigo já preso, mas não morto. Todos muito bem nutridos, com certeza bem almoçados, com taças de vinho ou copos de cerveja. Como se vê, nada aprenderam com a história de Creso, mais uma vez. Nada de temperança, equilíbrio e sabedoria. Não conseguem identificar e entender que o que julgam sólido e definitivo irá, também e mais uma vez , se desmanchar no ar. Vivem seus momentos de uma glória idiota, efêmera e artificial, venerando o transitório rei do momento, encenando armas apontadas para o mundo e seu fiel escudeiro jurídico. Quanta cegueira e ignorância juntas.


 o MANIFESTo DE LAURO:

 

Lauro Velasco é economista formado pela FEA-USP, mas também é historiador de mão cheia, administrador, educador e auto didata em uma gama de atividades, além de um grande pensador político e social.

 

Nesse espaço iremos abordar assuntos, temas, histórias com um enfoque social e político, mas ao mesmo tempo com uma linguagem simples e fácil de ser entendida e disseminada.

 

E com  esse Manifesto iremos trazer a tona assuntos espinhosos, mas com um tempero bem brasileiro.....

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