Cegueira
O capitão eleito proclama na Argentina o propósito de implantação de uma moeda única, no mínimo entre nosso país e aquele visitado, batizada apressadamente como peso real. Sem entender a visão panorâmica da defesa, sob a ótica econômica, de resto ridícula, diz o cidadão militar aposentado que essa moeda única fecha as portas para as aventuras socializantes, cá e lá.. Outro ridículo. Não consigo entender a razão porque uma moeda única possa castrar qualquer mutação política, desejo soberano do povo de qualquer um dos dois países. Grande parte da sociedade brasileira, pelo menos a mais esclarecida e menos comprometida com essas forças obscurantistas, tem uma visão clara sobre o que deve ser pautado no seu horizonte político, econômico e social. A sociedade argentina, da mesma forma. Essas pessoas, lá e cá, lutam por uma sociedade mais igualitária, mais equilibrada, onde possam resgatar e usufruir de uma escola pública, farta, de boa qualidade, acessível a todos os cidadãos; da mesma forma, entendem uma sociedade minimamente justa, aquela que propicie a todos seus cidadãos um sistema de saúde publica, amplo, também da melhor qualidade, onde sua população não precise mendigar pelos seus direitos; as pessoas lutam por um regime de trabalho, onde possa vigorar um sistema de pleno emprego, ou próximo dele, com mecanismos de proteção para quem, por ventura, esteja desempregado e não venha morrer de fome, desespero, ou desestruturar suas famílias; fica, também, no imaginário dessas pessoas que lutam por isso, que toda família tem que ter um teto para se abrigar, uma terra para trabalhar, se essa é sua opção de vida, ou de destino compulsório, o que não é nenhum absurdo. Na síntese, as pessoas que vislumbram uma sociedade assim estruturada, sabem que podem evoluir como povo e como nação, na busca plena de seus sonhos, participando de tudo o que lhe compete, inclusive na gestão de empresas públicas e privadas, onde fique claro que não são apenas fornecedores de mão de obra ou inteligência, voltadas somente para a geração e acumulação de mais valia apenas para o capital. Como pano de fundo, as pessoas que assim pensam, lutam para compor um conjunto de nações de solidariedade internacional, que não se deixem pilhar, sabedoras que somos todos habitantes de uma aldeia global, e, como tal, demandamos um convívio pacífico, harmonioso, enterrando as guerras e sendo protetor indeclinável do meio ambiente. Isso que acima acaba de ser desenhado, mesmo que incompleto e resumido, é aquela sociedade mais justa que se pretende construir, diametralmente oposta dessa em que vivemos. Não é uma sociedade socialista plena e acabada, há muito, ainda, a evoluir . São apenas os alicerces estruturais mínimos, mas já é algo mais humano e justo. Parece utópico, inalcançável?. Alguns países ao redor do mundo já caminham e se aproximam desse estágio, sem nenhuma fobia ao socialismo democrático. Muitos se negam a ver. É exatamente esse tipo de sociedade que o capitão eleito tem urticária e que ele assegura que precisa ser evitada. Parece incrível, mas é o que ele discursa e pretende evitar. Ele entende que a criação de uma moeda única impede as pessoas de pensarem nessa direção evolutiva. Quanta cegueira ampla, geral e assustadora.