Esquerda X Esquerda
- Lauro Velasco
- 17 de mai. de 2019
- 3 min de leitura
Terminei de ler a biografia de Carlos Marighela, em livro de Mario Magalhães. É um grande livro, acima de tudo de história brasileira e até mundial, depois de 1930, desses que não se encontram nos compêndios oficiais das escolas deste país. Como toda obra dessa natureza e dimensão, há muito espaço para reflexões. Não vou aborda-las todas porque, certamente, geraria infindáveis e inconclusivas discussões. Desnecessário dizer de minha admiração pela determinação do "guerrilheiro que incendiou o mundo", apesar de minhas discordâncias com relação ao método e ao momento histórico. Nenhuma novidade nessa minha postura, eis que a esquerda sempre foi a maior inimiga da própria esquerda. Sempre discordamos um do outro, por mínimas coisas, que se tornam gigantescas no processo dialético. Quando se lê o livro de Magalhães, uma das observações mais marcantes é aquela que mostra uma sopa de siglas de movimentos revolucionários da época, cada um com suas verdades absolutas e seus métodos. É o pessoal da ALN, do PCB, do PC do B, do MR-8, da POLOP, da JUC, da AP, da VAR-Palmares, do CLN - Colina e por aí vai. Conclui-se, quase que de imediato, que os pregadores e atores da esquerda desconhecem aquele princípio básico da física: " a maximização da força se dá, quando todos os VETORES estiverem na mesma direção". Se há vetores em direções diferentes ou antagônicas, ou se perde força, ou até se a anula. É o que fica claro nesses movimentos revolucionários, que ocorreram após 1964, até meados da década seguinte e que ocorre até os dias de hoje com os partidos políticos. Esse fenômeno da esquerda é secular, sempre existiu. Desde Marx, uma enorme energia foi gasta para que uns convencessem os outros que o caminho escolhido por cada um era o melhor. Marx brigou com todo mundo e todo mundo brigou com Marx, mesmo reconhecendo sua genialidade, cada um defendendo sua "verdade". O mesmo aconteceu com Lênin, que escreveu milhares de linhas e proferiu discursos combatendo os sociais democratas "revisionistas", os anarquistas, os socialistas utópicos, exatamente como Marx já havia feito. Depois veio Stalin, na sua gigantesca disputa com Trotsky, o advogado da "revolução permanente", muito sem sentido, inclusive, eis que o próprio Stalin foi o grande fomentador de movimentos revolucionários em todo mundo. O grande expurgo que Stalin aplicou, nas décadas de 1930 e 1940, nada mais foi do que eliminar células de esquerda divergentes de seu projeto de socialismo, que sempre estiveram latentes. Nikita Kruschev, secretário geral do PCUS, destruí a imagem do "Homem de Aço", num desserviço gigantesco para o projeto socialista mundial. E por aí vai, sempre o mesmo desenho de que o inimigo da esquerda nem sempre foi o capitalismo e o nazi fascismo. Inexplicavelmente, a esquerda liquida a outra esquerda, como se viu na Guerra Civil Espanhola e em outros sítios. É só garimpar a história e se encontrarão fartos exemplos. Atualmente, neste país, como em boa parte do resto do mundo, o fenômeno se repete. Aqui, PT, PSOL, PSTU, PCB, PC do B, e outros que se dizem de esquerda, transitam por vales diferentes. Assim, só ajudarão os reacionários a se perpetuarem no poder. Está claro que o capitão se elegeu no vazio criado, exatamente porque as esquerdas não tiveram o bom senso, nem entenderam o momento e, assim, não tiveram maturidade para a união. Acatou-se um candidato indicado e quase imposto pelo líder preso, excelente figura humana, mas que, naquele momento seu partido sintetizava TUDO o que a sociedade rejeitava, justa ou injustamente. Deu no que sabemos e estamos vivendo- um enorme retrocesso. Essa nossa educação política está, ainda, em nível próximo de ZERO. Enquanto essa dispersão continuar, não se colocar todos os vetores na mesma direção, será mais difícil e demorada a luta. E o vazio continuará sendo ocupado por outro vazio.

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