A Linha da Vida
Todos os seres vivos têm uma linha da vida. Empresas, países, também tem suas linhas da vida. Nascem e morrem como qualquer outro ser vivente, quando vistos sob a ótica infinita do tempo. Nós, humanos, como não poderia deixar de ser, temos, cada um, nossa linha da vida. Segundo o que penso, a linha da vida dos humanos inicia-se já no útero da mãe, segue como uma linha contínua, como se fosse uma função matemática ininterrupta e só cessa quando a vida se esvai. É destino inescapável de cada um, ou seja, ninguém consegue fugir de seu próprio destino, vale dizer, ninguém se liberta de sua própria linha da vida. Os espíritas dizem que essa linha da vida é contínua, interminável, nascendo de uma linha da vida anterior e é continuada após a morte, pelo fenômeno da reencarnação. Não entro nessa discussão e em seu mérito, porque não é importante no assunto ora em tela. A linha da vida de cada um, na essência, é a somatória contínua de todas as experiências vividas por esse ser humano. Ela reflete a acumulação de todas as suas dores, alegrias, tristezas, os livros lidos, os ensinamentos dos mestres, dos pais, irmãos, amigos e até de inimigos, os filmes vistos, os teatros assistidos, as músicas ouvidas, os esportes praticados, as aventuras vividas, as discussões, as discórdias, as concórdias, as decepções, os amores, as perdas, os ganhos, as decepções, os trabalhos executados, os desempregos vividos, as falências e fracassos doloridos, enfim, tudo aquilo que vivemos e que compõem todos os dias, todas as horas e minutos da vida de cada um. Em cada ser humano, a construção dessa linha da vida é, portanto, distinta. Como a impressão digital, cada linha da vida é diferente uma da outra. A linha da vida de um soldado é diferente da linha da vida de um poeta. O favelado ou o sem teto tem uma linha da vida distinta do habitante de um palacete. O humanista tende a se voltar para os ensinamentos e sentimentos que traduzem mais o sentido dos valores da ética, do comportamento associativo, da decência, da fraternidade e da igualdade. Sua linha da vida é um oceano desses valores. Outros não captam, na sua linha da vida, o sentido humanista e se voltam para outros tipos valores direcionados para a acumulação de poder, de bens, de comando imperial, de preocupações com a racionalidade fria e eficácia, desatrelados de qualquer sentido humanista, com natureza meramente calculista. Ainda, haverá os que construíram suas linhas da vida puramente voltados para a obediência, cega ou não, comandos e determinações, sem julgamento de valores. Tudo na sua vida é a hierarquia, sem nenhum valor dialético e contestatório. Os quartéis resumem essas linhas da vida. Os covardes e cegos de alma, também. Vivemos, nos dias de hoje e para o futuro próximo, o império e a predominância dos dois últimos tipos de indivíduos com as linhas de vida divorciadas de qualquer atributo e sentido humanista. Aí está o desafio para aqueles que tem uma linha da vida construída por valores que sintetizam o humanismo. No momento futuro próprio de nossas novas escolhas, temos que lutar em dobro para que os humanistas, possuidores de uma linha da vida mais próximos da alma acolhedora e justa, prevaleçam e resgatem esse humanismo que naufragou nos últimos tempos. Isso em todos os níveis, desde sua comuna até no país como um todo. Cada um deve ser uma voz nessa direção, tentando cooptar os insensíveis e fazer ver os cegos de alma. Se não conseguirmos, estaremos deixando escapara a esperança, a última virtude ainda retida na caixa de Pandora.