A Ford e Sísifo
Nos últimos dias, a Ford noticiou o fechamento de sua fábrica de caminhões em São Bernardo do Campo, com a consequente demissão de 3000 trabalhadores diretos, impactando mais 27000 indiretos, num total previsto de 30000 pessoas no olho da rua. Essa é a face mais cruel do capitalismo, esse sistema econômico defendido pelas classes dominantes, daqui e do resto do mundo. E a essência desse sistema econômico é bastante simples: não deu lucro, fecha a empresa. E os trabalhadores? Que se lasquem, o mercado - aquela figura abstrata, que resolva. Aí reside o complexo problema dos sistemas econômicos. Depois da queda e falência do sistema soviético, por razões mil, que este espaço é exíguo demais para dissecá-lo, o mundo dos trabalhadores ainda busca, nada encontrando, um modelo de equilíbrio, que impeça esse tipo de genocídio camuflado de seres humanos. Chegamos a ter, em nosso país, pouco tempo atrás, um sonho, uma esperança, que poderiam nos apresentar um sistema econômico mais equilibrado, mais justo, quando fomos governados por um partido que se dizia dos trabalhadores e que ajudei a criar, e nele militei mais de 12 anos. Sabemos no que deu, mesmo entendendo que fomos vítimas de TODOS OS GOLPES possíveis. Mas, fomos, também, muito culpados por isso, ao atropelar nosso próprio discurso ético. Esse cenário desenhado pela Ford é o mesmo já constatado pela crise, com quase 12 milhões de desempregados, e com os Sindicatos enfraquecidos(deliberadamente), mostra o LABIRINTO em que se encontra a classe trabalhadora deste país, sem saída e sem esperança. Caminhamos para trás na história, derrapamos montanha abaixo, tal como a pedra de Sísifo. Difícil retomar a caminhada montanha acima, carregando o mesmo peso, a mesma pedra. Não sei se há esperança nas próximas gerações. (Sisifo, figura astuta da mitologia grega, que, revolucionário e rebelde diante dos deuses do Monte Olimpo, recebeu de Zeus um castigo, que consistia em empurrar ETERNAMENTE uma pedra montanha acima, que, quando lá chegava, de novo rolava para o fundo do vale. Junto com Prometeu, sintetiza o sofrimento humano).