Marx e o Nazareno
Neste ano, se comemora o bicentenário do nascimento de Karl Marx, ocorrido em 05 de maio de 1818, na Prússia, atual Alemanha. Lê-se a respeito do político, do filósofo e do economista, sempre e de antemão com um viés depreciativo, e pouco ou nada se dá real importância a essa maiúscula figura histórica. Para quase todos os cegos, Marx foi o responsável pelo surgimento dos Estados burocráticos e autoritários no século XX. Nada mais equivocado. Marx, ou Engels, jamais deram forma a qualquer tipo de Estado, em nenhuma de suas obras. Quem fez isso foi Lenin. Marx foi, no início, até contra a Comuna de Paris, porque não via nela um panorama maduro, para dali sair um Estado igualitário. A essa Comuna aderiu, porque lá estava uma de suas filhas, Laura, e seu genro, o cubano Lafargue, ambos lutando como comunards. Marx via tudo aquilo mais como o ensaio de um sonho utópico do que uma realidade factível. Mas era um ensaio. Seus escritos foram sempre numa direção da igualdade, da justiça social e da fraternidade. Mas ele não se restringiu ao discurso apoteótico e revolucionário. Ele desnha em sua obra maior, o Capital, os fundamentos da exploração do trabalhador e sua penúria, os fundamentos do surgimento da mais valia, a teoria do valor, a apropriação pelos detentores do capital, acusando, com clareza, a apropriação indevida dessa riqueza por apenas aqueles que detinham o capital, nada destinando a quem realemnte a produzia, o trabalhador. Poucos, muito poucos, sabem da vida cotidiano do homem Marx, sua mulher, seus filhos, suas doenças, sua pobreza (por culpa dele mesmo), sua dependência financeira de Engels, o destino cruel de alguns de seus filhos, mortos pela miséria ou suicidas, da morte lenta e dolorosa de sua mulher de câncer, enfim, poucos sabem daquela vida de carências, de despejos e sofrimentos. Era um homem com enorme desapego ao dinheiro, por isso gerando tanto sofrimento à família. Poucos, muito poucos, sabem das doenças de Marx, a ponto de morrer trabalhando em sua mesa, sempre escrevendo, vítima de síncope cardíaca, com furúnculos espalhados pelo corpo, o que o impedia de sentar e deitar, sem sentir enorme dores. Enfim, muitos milhões criticam Marx sem nada, absolutamente nada dele conhecer de sua vida, de seus sofrimentos e de suas propostas. Apenas ouviram, bem de longe, falar a respeito, emprenhados pelo ouvidos. Na análise histórica dos fatos, poucos, quase ninguém, percebe o que Marx provocou na evolução da humanidade, sem, ele próprio, ter apanhado um fuzil em suas mão e dado um tiro para fazer uma revolução. O que ele fez foi suficiente para mobilizar milhões. A sociedade econômica e social mundial SÓ EVOLUIU PORQUE O SOCIALIMSO MARXISTA OBRIGOU O CAPITALISMO A, MINIMAMENTE, SE AJUSTAR E SE HUMANIZAR. Os sindicatos, os revolucionários, ao longo dos século e meio, obrigaram os capitalistas a ceder muitos de seus anéis para não perderem os dedos. Em certo momento da história, o mundo capitalista treme as pernas, com medo de tudo perder. Na metade do século XX, poucos acreditavam que o capitalismo iria sobreviver, tal a ameaça que o desenvolvimento socialista demonstrava. Daí para frente, a luta ideológica da guerra fria e de combate ao marxismo se potencializou, até destruir o vigor do socialismo. Foi uma luta de sobrevivência do capitalismo e, para tal, foi o vale tudo mundial. Os criticos do marxismo acham que a evolução da social democracia e a humanização relativa do empresariado capitalista mundial teria ocorrido sem a luta dos trabalhadores, como se os patrões, detentores do poder e do capital, cedessem algo de livre e espontânea vontade, de mão beijada? Toda essa luta de operários, camponeses, intelectuais se pautaram por princípios socialistas, desenhados por Marx. Sem ele, muito disso não teria existido. Às vezes, eu exagero um pouco, comparando o Nazareno com Marx. Quando analisadas as mensagens de ambos, se verá uma quase plena identidade de propostas, resumidas simploriamente na igualdade e fraternidade, pregadas por ambos. Sei que é exagero, mas não sou o único a pensar assim: muitos missionários cristãos veem o mesmo.É bom refletir a respeito e passar a ver Marx com olhos de profeta e não de demônio ou de apenas materialismo histórico. Eu encaro a humanidade cada vez mais desumana, exatamente porque a mensagem de ambos, Nazareno e Marx, estarem cada dia mais longe de se substantivar, tornar-se realidade. Parece só haver surdos e cegos neste planeta, não observando o óbvio. Espero que ressureição da mensagem do Nazareno volte a ressuscitar, como ocorreu com ele, bem como ressurja a utopia socialista, mesmo que dialéticamente atéia. Ambas, hoje, estão absolutamente mortas.