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A Imagem que se Procura Vender

Desde muito cedo, ainda na década de 1950, eu lia o jornal “Folha da Manhã”, que era o título da época do diário do grupo Folha. Meu pai, apesar de nada letrado, era assinante do jornal, um dos muito poucos de minha cidade. Chegava sempre com um dia de atraso pelos trens da Sorocabana.

Verdade que, na época, eu lia muito mais interessado nas páginas do esporte, corintiano que sempre fui, e nos artigos de um jornalista, fanático torcedor alvinegro, cujo codinome era Pedro Leite. Depois soube que se tratava de Mario Mazzei Guimarães, um dos maiores jornalistas da segunda metade do século XX. Ele se escondia sob aquele apelido, para gozar de plena independência.

Não me escapava, no entanto, as imagens da Guerra da Coréia, iniciada em 1950, que se prolongou até 1953.

As descrições jornalísticas dos correspondentes de guerra mostravam uma barbárie sinistra. Os bombardeiros B52 e B56 carregavam em seus ventres toneladas de bombas, que eram despejadas com brutalidade única, sobre um povo absolutamente indefeso. As reportagens deixavam claro que tudo que se movia, ou era fixo, deveria ser destruído. Repetia-se a “delenda est Cartago”, do velho Catão, o Censor: não deveria ficar pedra sob pedra, para quem ousasse desafiar o “Império”.

A história deixa claro que sequer a guerra foi declarada entre os países. Num capítulo da guerra fria, com corpos carbonizados e destruídos pelo nada frio napalm, haveria que se manter nacos de terra, onde se deveriam construir novos fortes, tipo Álamo, para ali vicejar a tão paradisíaca terra democrática, cujo padrão era os EUA. Como já haviam feito com o México.

O que aconteceu depois no Vietnã, já havia acontecido na Coréia, nomeada depois como do Norte: as bombas de napalm destruíram tudo: humanos, animais, casas, escolas, tudo o que poderiam encontrar pela frente. Exatamente como voltaria a ocorrer com o Vietnã, os coreanos do norte só tinham como alternativa de sobrevivência, viver em túneis subterrâneos. Imaginem essa realidade cotidiana. Difícil apertar as mãos de quem os tratou dessa forma, qualquer que seja o pretexto. Difícil condenar o país que, para manter sua sobrevivência, deriva hoje para a opção nuclear. O que esperar desse leviatã yankee que quer, novamente, impor o seu jugo?

Quando analisada com profundidade a história Americana e sua política do “big stick”, irá se constatar que, inúmeras vezes, em todos os continentes, suas brutais intervenções, direta ou indiretamente, deixaram montanhas de cadáveres. Só para lembrar: duas bombas atômicas no Japão, já vencido, na Guerra da Coréia, na Guerra do Vietnã, do Iraque, do Afeganistão, da Líbia, sem contar as intervenções na América Latina, América Central, na África, sempre usando sua própria força, ou tomando emprestado guerreiros pagos a peso de ouro, vide Angola e adjacências. Certamente, omiti muitos outros cenários. Velho xerife do mundo.

A sua própria história, como país, sempre teve a presença de uma violência endêmica. Faz parte de seu gene. Os índios e os mexicanos que o digam. E continua até hoje.

Os Estados Unidos desenvolveram não apenas essa formidável e criminosa força para impor sua ideologia. Eles também atuaram em outras frentes, tentando fazer a cabeça dos menos informados. O processo de doutrinação desse país, na venda da imagem que lhes interessa, na cooptação de mentes, é mecanismo secular. Há milhares de agentes pelo mundo afora, como doutrinadores. E mil métodos de ação.

Sou testemunho pessoal disso: tentaram me cooptar durante um curso que me convidaram a fazer e fiz na Universidade do Texas, em Austin. Felizmente, já amadurecido politicamente, eu estava vacinado e nunca deixei de ter um senso crítico a respeito e apenas frustrei a intenção dos gringos. Comigo nada conseguiram e com meu companheiro de quarto também dele nada obtiveram, ele, um mexicano emputecido com o que, historicamente, fizeram com seu país, a começar pelo roubo de territórios.

Por esse e por outros tantos motivos é que sempre reforço minha recomendação para a leitura da história. A história deve ser servida como alimento na mesa, farta e diária, para que a sabedoria de cada um esteja vacinada, preparada para descartar as falácias. Não se pode comprar gato por lebre. Nunca.

Eu sei a verdadeira imagem desse país. Não adianta me vender algo que é uma mentira monstruosa, com fatos múltiplos que as atesta, desde que o sioux Touro Sentado lutou para evitar um holocausto indígena e que nunca fizeram questão de mostrar a verdade. Começaram dentro de casa, ocupando freneticamente as terras, inclusive de outros países, com a destruição de seu povo primitivo. Milhões de índios morreram. Depois continuaram pelo mundo afora, sempre com a tentativa de nos induzir, na intenção de moldar a imagem que lhes interessa, encobrindo a verdade. Trump representa de forma escarrada tudo o que o autoritarismo e a desumanidade americana podem mostrar. É sua síntese. Realmente difícil sentar à mesa com esse símbolo da opressão, apertar suas mãos e falar de paz. Esse cara mostra uma imagem real de ódio, que não há como esconder e difícil de transmitir qualquer humanidade. Mas eles tentam vender, sempre que podem, o inverso. Muitos acreditam. Eu não. Com Donald Trump, a humanidade caminha no fio da navalha. Qualquer escorregão, o corte será profundo.

 o MANIFESTo DE LAURO:

 

Lauro Velasco é economista formado pela FEA-USP, mas também é historiador de mão cheia, administrador, educador e auto didata em uma gama de atividades, além de um grande pensador político e social.

 

Nesse espaço iremos abordar assuntos, temas, histórias com um enfoque social e político, mas ao mesmo tempo com uma linguagem simples e fácil de ser entendida e disseminada.

 

E com  esse Manifesto iremos trazer a tona assuntos espinhosos, mas com um tempero bem brasileiro.....

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