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Um Golpe Perfeito

Não é de boxe, nem de judô, sequer de caratê. É político mesmo.

Se Nicoló Maquiavel fosse nosso contemporâneo, ele estaria num patamar de aprendiz nos contorcionismos políticos, num certo país da América do Sul. Seu príncipe se preocuparia pelo seu amadorismo.

Nascendo no Mensalão, que não era mensalão, mas caixa 2, passando pelas pedaladas fiscais, que não eram pedaladas fiscais, sustentadas por dois advogados que não sabem o que é um lançamento contábil orçamentário por regime de caixa ou por competência, e terminando no triplex do Guarujá, que nunca comprovaram a propriedade inventada nas acusações, a direita rançosa, os meios de comunicação a serviço da elite, os coxinhas de plantão e o próprio judiciário, sem a visão panorâmica do todo, apearam do poder e da disputa todo um partido político e sua maior liderança.

Verdade que esse partido teve total participação na sua própria desgraça. Foi um colaboracionista não espontâneo. O poder o corrompeu, trilhou caminhos equivocados, entrou na mesma vala comum, que tanto combatia em seus falsos discursos. A contradição se fez presente e a credibilidade se esvaiu. Assim destruiu o sonho de toda uma esquerda brasileira e também mundial, que tinha grandes esperanças em mudanças, depois da falência soviética, dentro de uma democracia, mesmo que burguesa. Os historiadores do futuro verão, com mais clareza, todo o mal que esses equívocos comportamentais provocaram e, talvez, jamais perdoarão esses companheiros, pois não destruíram apenas a si próprios, mas comprometeram a esperança de futuro dessas almas todas frustradas, pelo enterro da utopia e da credibilidade política. Alguns desses companheiros presos e cassados, verdade seja dita, jamais tiveram a visão panorâmica do que poderiam ter feito, se cumprissem seus históricos compromissos. José Dirceu, tardiamente, reconhece esses equívocos. Lula, apesar de preso por crime não cometido, ainda não reconheceu seu papel, explicitamente, nessa queda, escondendo sob suas asas incontáveis escorpiões e gatunos. Ainda guarda na sua memória o fato de ter sido o maior presidente que este país conheceu, imaginando que esse fato o vacinaria contra o ódio dessa direita, a quem tanto favoreceu, bem como o dolo de companheiros, em quem tanto confiou. Equivocou-se, inocentemente. Está pagando pelo que não fez, ou fez ouvidos de mercador.

Os golpistas, sempre inconformados com um governo popular, desde a primeira eleição de Lula, estão exultantes. Vingaram-se, finalmente, das últimas quatro derrotas eleitorais para a presidência. Deram, os petistas, muitos motivos para isso. O pesadelo da direita acabou. Conseguiram, mesmo que tenham cooptado não apenas o juiz, mas tantos outros atores dessa trágica comédia. Agora, segue o jogo.

Verdade que parte das armas usadas pela casa grande algumas se sustentaram artificialmente por mentiras, manipulações de informações, interpretações da lei com claro viés, mas a realidade é que a direita sai, ao final desse teatro, altaneira, vencedora, feliz, realizada, mesmo que ela saiba, repito, que todo o percurso percorrido foi ilegítimo, pois grande parte dos argumentos utilizados foram falaciosos, desde o início. Cinicamente, todos eles acham que foi tudo dentro da lei. E os guardiães da lei concordam, também cinicamente.

Há festa na Casa Grande, para tristeza da senzala. As próximas eleições confirmarão esse cenário.

Um golpe perfeito, com ajuda explícita do golpeado. Pura inocência, confiar em pulhas e com eles conviver em conluio, cama e mesa. Diga-me com quem andas..... É dolorido? É. É mais que isso: é tudo muito dramático, melancólico, uma tristeza profunda, potencializada. Sabemos que não se matam sonhos nem idéias, mas é de se perguntar: quantas gerações ainda serão necessárias para resgatar esse sonho, essa utopia? Será que conseguiremos, um dia, ressuscitar depois dessa lama comprometedora? Ambos, sonho e utopia, estão, hoje, estraçalhados. Na UTI.

Maquiavel estaria com muita inveja, se vivo fosse, de um golpe em vários atos, como se encenasse uma triste tragédia brasileira, maior que a grega.

 o MANIFESTo DE LAURO:

 

Lauro Velasco é economista formado pela FEA-USP, mas também é historiador de mão cheia, administrador, educador e auto didata em uma gama de atividades, além de um grande pensador político e social.

 

Nesse espaço iremos abordar assuntos, temas, histórias com um enfoque social e político, mas ao mesmo tempo com uma linguagem simples e fácil de ser entendida e disseminada.

 

E com  esse Manifesto iremos trazer a tona assuntos espinhosos, mas com um tempero bem brasileiro.....

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