A Terceira Idade

Eu estava com minha neta, passeando pelas areias de uma das praias do Guaruja. De súbito, vimos uma pequena multidão, 30/40 pessoas, reunidas na porta do mais conhecido edifício daquela cidade, talvez do país. Nos aproximamos, eu e minha neta, cautelosamente, para ver o que estava ocorrendo. A quase totalidade daquelas pessoas vestiam roupas muito simples, humildes, às vezes rasgadas, sapatos surrados, assemelhando a verdadeiros lumpens. No meio delas, um sujeito bem apessoado, alto, cabels grisalhos, mantinha um diálogo com o zelador. Me disseram que era o líder do Movimento dos Trabalhadores sem Teto - O MTST. - Senhor, aqui estou, com uma autorização firmada em cartório, com fé pública, assinada pelo proprietário do apartamento, onde ele me autoriza a tomar posse desse imóvel e nele agasalhar esses companheiros sem teto que aqui me acompanham. É um triplex, e nele caberá toda essa gente, bem acomodada. - De jeito nenhum, retrucou o zelador. Aque não tem nenhum proprietário com esse nome. - Mas senhor, o país inteiro sabe que este apartamento triplex é da pessoa que me autoriza. Tudo está publicamente divulgado, constatado, homologado por juiz federal e, até, por unanimidade, por três desembargadores! Como o senhor pode negar tal evidência? - Olhe, vou chamar o Síndico. Enquanto eu e minha neta, bem como o resto do grupo, esperávamos o Síndico, foi cada vez mais aglomerando outras gentes. À chegada do Síndico, repetiu-se o diálogo. O Síndico, peremptoriamente, disse: - Aqui não tem nenhum apartamento em nome desse f.d.p. Esse triplex está em nome de outra pessoa. A escritura, o IPTU, os boletos do condomínio tudo está em nome de outras pessoas e não desse....(não repetiu nenhum palavrão) cara que autorizou você. E como pequena/grande autoridade, o Síndico não permitiu que a conversa se alongasse. Se retirou. O tumulto ia se ampliando e eu falei para minha neta: vamos embora que esse negócio não está me cheirando bem. Tinhamos andado uns vinte metros, e eu ouvi uma enorme explosão. Acordei com um retumbante trovão, desses que anunciam fortes tempestades de verão, seja de dia, seja à noite. Acordado, refleti sobre o sonho, como sempre faço. Nós, os avós, ja não conseguimos dormir tranquilos, quando nossa linda e única neta sai de viagem para passar alguns dias no Guaruja, na casa de amigas. Preocupados, ficamos sonhando, ou melhor, tendo pesadelos, pois na Terceira Idade temos mais pesadelos do que sonhos.