Francisco
O papa Francisco surpreende mais uma vez. Esta nova surpresa é gigantesca, como foi, também, a declaração do Frei Beto, na mesma direção: " São os comunistas que pensam como os cristãos. Cristo falou de uma sociedade, onde os pobres, os frágeis e os excluídos sejam os que decidem. Não os demagogos, mas o povo, os pobres, os que tem fé em Deus ou NÃO. São eles a quem temos que ajudar a obter a igualdade e a liberdade". Essa é uma declaração realmente revolucionária e histórica. Ao longo dos séculos, o cristianismo que nasceu humilde, praticado pelos seguidores do Caminho, aqueles que com Ele estavam na Santa Ceia, com exceção de Judas Iscariotis, depois se transformou em igreja, nunca desejada pelo Nazareno, igreja essa que, ato quase contínuo, se transformou em palácio, distanciando-se exatamente dos pobres, vale dizer, do povo, como todo habitante desses palácios. Durante 20 séculos, essa igreja foi reacionária aos avanços da igualdade, da fraternidade e da liberdade. Chegou a chamar a Revolução Francesa, o maior movimento iluminista da história, de "Peste Francesa", assemelhada à lepra, tuberculose, peste bubônica e outras desgraças humanas. Com o advento de Marx, a distância da igreja com os iluministas/ comunistas/ socialistas ficou infinita, depois da frase realista, mas agressiva, que a religião era o ópio do povo. Comunismo e paraíso celeste cristão tem a mesma raiz. O caminho e instrumentos para lá chegar são distintos: um, no campo material, através do socialismo gradativo e o outro no campo espiritual na construção de almas mais receptivas ao discurso do Mestre. Ambos são utópicos, são formas e idéias platônicas, que só serão atingidos depois de um longo e consciente caminho. Ambos, socialismo(ou comunismo) e cristianismo sofreram, ao longo do tempo, do mesmo mau, o desvirtuamento de seus caminhos. A mensagem de Francisco é notável, simplesmente porque destrói, com uma única frase, o espírito de confronto que sempre existiu entre ambas as idéias, vale dizer, comunismo e cristianismo. Ele deixa claro que ambos são originários do mesmo útero, na alma humana, e não há porque serem inimigos. Em tempos de pouca esperança, podem dizer que Francisco é uma luz, tão próxima de nós que costumo chamá-lo de Chico, meu amigo, mesmo eu sendo um ateu e agnóstico.