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Don Quixote e os Sonhos

Há uma regra fundamental na análise de qualquer obra literária, como de qualquer outra obra: ela deve ser apreciada e entendida em função do contexto em que foi escrita ou produzida. Há que se levar em conta a época própria e todo o ambiente social e histórico em que surgiu. Se isso não ocorrer, leitores ou observadores desavizados poderão não entender a magnitude dessas obras. Algumas lições foram deixadas por Cervantes na sua obra maiúscula, Dom Quixote de la Mancha. Essas lições são válidas de forma atemporal, apesar de escritas nos séculos XVI/XVII. Assim são os clássicos da literatura, transmitem o imortal. A primeira lição de Dom Quixote se traduz no papel determinante dos LIVROS;eles fazem nossas cabeças, amoldam nossos pensamentos e espíritos, conduzem nossas vidas. Mas há que se ter cuidado com os livros, para que eles não nos escravizem. Nem sempre é fácil separar o joio do trigo, fartos nas páginas dos livros. Dom Quixote cometeu esse erro. Leitor voraz dos livros de cavalaria, tinha o sonho de se transformar num Cavaleiro Andante, numa época do Renascimento, em que esse tipo de herói já pertencia ao passado, na Idade Média. Os livros deformaram sua cabeça, levando-o a uma certa loucura de conduta, devido à extemporaniedade desse herói, já pertencente ao passado. Assim, seu propósito se situava mais num campo da insanidade mental. Suas trapalhadas de então o enquadrariam como mais um amigo do Mussum, dos Trapalhões modernos. Via nos moinhos de vento os gigantes de braços abertos, que precisavam ser vencidos, na preservação dos mais fracos;via num rebanho de ovelhas exércitos de inimigos, como os mouros invasores; via nas pousadas das estradas as donzelas de moral duvidosa que precisavam ser protegidas, contra os avanços dos impuros. Como todo bom Cavaleiro Andante, tinha sua musa, de amor platônico, a Dulcinéia del Toboso, a quem dedicava todas as suas batalhas e vitórias.; assim também tinha seus fiel escudeiro, Sancho Pança, conhecedor da loucura de seu senhor, porém mais interessado no castelo por ele prometido. Depois das tresloucadas idéias e ações praticadas em sua epopéia, finalmente Dom Quixote, alquebrado, doente e fragilizado, volta para sua morada, compulsoriamente levado por seus amigos, todos eles penalizados pela loucura e sofrimento daquele insano senhor. Sequer o platônico amor de Dulcineia resistiu. Caiu por terra. Numa época em que os poetas diziam que Vida é Sonho - Calderon de la Barca, Cervantes nos deixa a segunda grande lição, também imortal: para Dom Quixote, mortos e sepultos seus sonhos, só lhe restava MORRER. Os amigos, ao tentarem salvá-lo, paradoxalmente, o mataram: nada restava ao Cavaleiro da Triste Figura além da morte. As obras clássicas nos trazem essas lições definitivas, que nos ajudam a carregar as dores e incertezas da vida. Vivemos dias em que vemos nossos sonhos moribundos. Mas, nos negamos a deixar que os matem, sobretudo porque nós mesmos precisamos sobreviver. Não querermos nenhuma morte, nem de sonhos, nem ficarmos inertes com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar. É dever de cada um nada temer(Ops! - Fora Temer) naquilo que nos espera. Sonhos e utopias continuarão em nossas vidas. É a única forma de mantermos vivos, nós e os sonhos.


 o MANIFESTo DE LAURO:

 

Lauro Velasco é economista formado pela FEA-USP, mas também é historiador de mão cheia, administrador, educador e auto didata em uma gama de atividades, além de um grande pensador político e social.

 

Nesse espaço iremos abordar assuntos, temas, histórias com um enfoque social e político, mas ao mesmo tempo com uma linguagem simples e fácil de ser entendida e disseminada.

 

E com  esse Manifesto iremos trazer a tona assuntos espinhosos, mas com um tempero bem brasileiro.....

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