Páginas da História
A Índia obteve oficialmente sua independência no dia 15 de agosto de 1947. Isso é o que consta nos documentos oficiais. Em realidade, o fato ocorreu no dia 14 de agosto, pois os leitores dos astros indicavam o dia 15 como impróprio para o nascimento formal da nova nação. Coisas das religiões. A independência da Índia foi o resultado de uma incansável luta de Mahtma Gandhi, que, com sua política de desobediência civil, pacífica, deixou sem saída o Império Britânico. No dia da independência, o povo hindu, inclusive Gandhi, foi pego de surpresa, pois, ao mesmo tempo que deram independência à Índia, criaram um novo estado - o Paquistão, para agasalhar todos os muçulmanos que viviam na Índia. Isso foi negociado por Nerhu, sem ciência de Gandhi. Não foi uma traição, foi imposição e aceitação do possível. Isso provocou uma brutal reação, aflorando todos os recalques acumulados por séculos entre os membros daquela sociedade. Hinduístas matando muçulmanos, muçulmanos matando hinduístas, vizinhos, outrora amigos, matando-se reciprocamente, num holocausto em que, em pouquíssimos dias, morreram cerca de 200 mil pessoas, homens, mulheres e crianças. Corpos abandonados nas ruas das cidades, nas estradas, em todo lugar, enquanto mais de 12 milhões de pessoas eram obrigados a mudar de lar. Ou iam para o novo Paquistão, ou de lá vinham para a Índia. O que tudo isso tem a ver conosco, nos dias de hoje? Possivelmente, nada; possivelmente, muito. O processo de radicalização hoje vivido no país, pelo impeachment ou não impeachment de Dilma, tem certas semelhanças com a experiência da Índia. Não é efetivamente uma luta religiosa, como lá foi. Porém, é uma batalha política com uma radicalização perfeitamente configurada, quase religiosa. Se o impeachment/golpe se concretiza, como se comportarão os perdedores? E vice versa? Nesse cenário, não temos um Gandhi pacificador, que, nem mesmo ele conseguiu evitar tantas mortes, sendo, ele próprio, assassinado logo depois. Eu entendo que, quer gostem ou não, só temos uma liderança que poderá servir de BOMBEIRO OU DE INCENDIÁRIO. Essa figura é Lula, repetindo, quer gostem ou não. Quer o prendam ou o deixem solto. Ele será o termômetro. Ele acalmará ou acirrará os ânimos. O grande problema é que os radicais de direita pró impeachment não veem isso, mesmo depois das pesquisas eleitorais darem a Lula uma ponderável quantidade de votos. René Descartes, o filósofo francês, dizia que todo ser humano achava que o bom senso era a coisa mais bem distríbuída na humanidade. Todos, sem exceção, se achavam dotados do pleno bom senso. Todo ser humano se acha um poço de bom senso. Um equívoco. Pergunte a quem quer apear Dilma do poder se ele está dotado de todo esse bom senso, com essa cegueria coletiva que os norteia, a ponto de evitar um mal maior? Não creio. Como estarão sendo escritas as linhas da história depois de tudo isso? ???