Lucas - Um Texto aos Humanistas
Contemporâneo do Nazareno, a quem não conheceu pessoalmente, Lucano era filho de Enéas, um escravo alforriado pelo seu proprietário, um centurião romano de bom coração, comandante das tropas na Síria. Com a morte de seu pai, repentinamente, esse centurião o adotou como filho. Lucano, mais tarde, se transformou em Lucas, porque a mãe de Jesus, Maria, quando o conheceu, assim, equivocadamente o chamou. Passou, daí para frente, a ser Lucas. Viveu sua infância ao lado da família do centurião e, já moço, recebeu o presente de estudar medicina em Alexandria, no Egito, onde havia a melhor escola nesse tempo. Lucas era um incorrigível critico de Deus, como eu, pois esse Ser Supremo dele roubara quase tudo o que ele amava, e permitia, com seu poder infinito, que os seres humanos sofressem as mais indescritíveis dores e humilhações. Que Deus era esse? Impossível existir um Deus, ele afirmava, assim omisso e cego às dores humanas. Mais tarde se converteu. Lucas, como médico, tinha a missão clara de assistir aos mais pobres, os miseráveis, os escravos, enfim, os humilhados e ofendidos em geral. Era tido como santo e extremamente competente como médico. Suas aptidões sensoriais e extra sensoriais faziam dele um milagroso nas curas dos males do corpo e da alma. Rarissimamante, atendia aos ricos, pois, justificava, quem era detentor de riqueza, podia pagar outros médicos como ele. Sua vida e seu tempo estavam destinados aos miseráveis, de qualquer origem, credo e cor. Vale a pena ler sua biografia, num livro cujo título é: Lucas - O Médico de Corpos e de Almas. Escrevo isso a propósito de uma médica pediatra do Rio Grande do Sul, que se negou a atender uma criança, pelo fato de sua mãe ser conhecida na comunidade como simpatizante/militante do PT. E o que é pior: o presidente da Associação de Classe Médica do mesmo estado corrobora a atitude, solidarizando-se com a médica, justificando, ainda, com argumentos estúpidos. Como será que Lucas reagiria a tudo isso? Eu não tenho dúvidas: chamaria aquela mãe e sua criança, as abraçaria, as atenderia e diria a elas que perdoassem aquela médica, como o Nazareno perdoou o ladrão que estava a seu lado na cruz. Mais uma vez: tempos estranhos estamos vivendo.