"Diógenes, O Cínico"
Diógenes foi um filósofo grego, nascido na cidade de Sínope, tendo vivido quase toda sua vida em Atenas, no século IV, AC. Ontem, ele ressuscitou. Eu o vi na Av. Paulista, pela televisão, porque lá não fui. Tenho certeza de que era ele. Com sua histórica lamparina, descalço, vestido em andrajos, continuava procurando um homem honesto, no meio daquela multidão de dimensões nunca vistas. Questionado, Diógenes, cujo apodo é o Cínico, respondeu, cinicamente, é ...obvio, que o que ele estava vendo nas ações daquele povo era uma enorme contradição, porque ainda não havia se deparado com ninguém honesto, condenando desonestos, diante das ações de desonestidade que aquele mesmo povo praticava no seu cotidiano. Ele disse, complementarmente, que a virtude deveria ser revelada nas ações de cada um e não na teoria, no discurso das pessoas. Como ele sempre acreditou,os homens viviam artificialmente, de maneira hipócrita, sendo conduzidos como gado por meia dúzia de boiadeiros e aquela era a realidade que a Av. Paulista mostrava. Sua lamparina, além de não iluminar alguém honesto, não via mendigos, como ele, nenhum sem teto, sem emprego, sem terra para plantar. Não via pessoas da periferia, aqueles sofredores que ficaram em casa para que a chuva não levasse o que restou de suas moradias. Não via operários, lavradores, os desempregados e os sem esperança, habitantes das favelas da cidade. Só via patrões, fazendeiros, industriais, burguesia gorda e satisfeita. Sua cara de surpresa via corruptos condenando corruptos, numa disputa incompreensível para saber quem era mais ou menos a mesma coisa. Cansado, sentou-se na calçada e pediu a um policial, a exemplo do que já fizera com Alexandre, o Grande, para que saísse de sua frente e deixasse a luz do sol bater em seu corpo. Definitivamente, desconfiou de tudo, pois a multidão não levava nenhum cão, para ele o símbolo da virtude e da honestidade. Decepcionado, imaginando que a humanidade tivesse mudado um pouco, jogou a lamparina no lixo. Como em Atenas, pegou fogo, e um dos passeantes veio a ele condená-lo, provavelmente mais pela sua aparência do que pelo pequeno incêncio, logo extinto. Aquele não era seu lugar, de mendigo, disse, raivosamente, o passeante. Ele, que já havia dito uma vez que, na casa de rico não há lugar para se cuspir, a não ser na cara dele, assim o fez. A última cena televisiva que vi de Diógenes, o Cínico, foi ele sendo levado pelos policiais. Como aconteceu na Grécia Antiga, quando foi expulso de Atenas, por subverter a ordem pública.