"Refinaria de Pasadena"
Um dos aspectos mais explorados nos argumentos para explicar e justificar um processo de impeachment da presidente Dilma está ligado à operação de compra da refinaria de Pasadena, em Houston, Texas, USA. Segundo os adversários, o valor pago por aquele ativo extrapola em muito o seu valor real, daí se concluindo mais uma cena de corrupção endêmica que assola o país.
Como sempre, a análise dos fatos não está plenamente clara e completa, servindo aos inimigos políticos o uso dessa negociação para desqualificar e comprometer a presidente.
Ninguém, até hoje, informou, respondeu e calculou o real valor de quanto valia aquela refinaria. Alguém tem essa informação? Quanto realmente valia aquele ativo? Qual e porque o impacto que o valor do Judiciário norte americano imputou à Petrobrás, pela ação demandada pela original detentora do controle? Por que tudo isso foi parar no Judiciário daquele país? Qual era o valor das ações da refinaria no momento da condenação? Tem-se essas respostas, mas ninguém as informa, todos ocultam ou omitem. Melhor explorar o desconhecimento do povo para benefício político.
Primeiramente, tenho certeza de que todos os críticos e acusadores dessa operação NÃO SABEM COMO DAR VALOR A UMA EMPRESA. Tenho certeza.
Uma empresa tem, como regra básica, duas vertentes para calcular seu valor de mercado: 1) Valor do Ativo Tangível, dado pelo valor de seu Patrimônio Líquido ajustado à data da operação; 2) Valor do Ativo Intangível dado, basicamente, pela possível geração de lucros futuros.
A primeira crítica que fazem, diz respeito ao preço pago por 50% da refinaria, sem dar detalhes do valor do Ativo Tangível. No nosso país e no resto do mundo, é muito comum investidores comprarem uma empresa, introduzir melhorias de processos e capacidade de produção, via investimentos diretos e depois vender ou explorar o negócio.
Essa empresa negociada pode já não ter nada mais a ver com sua planta original e sua capacidade de produção. Assim, o que a empresa belga pagou originalmente pela refinaria NÃO PODE SERVIR DE BASE ÚNICA PARA QUALQUER VALORAÇÃO SUBSEQUENTE. Todo cenário de produção e mercadológico pode ter mudado. Não há nenhuma informação conhecida do público que detalhe nada nesse sentido. Ninguém abordou, também, questão de estoques em momentos diferentes no tempo, nem investimentos incorridos. E sabe-se que mais da metade do valor pago pelos 50% era de ESTOQUE DE PRODUTOS ACABADOS.
A segunda crítica faz-se com relação ao preço, sem dar detalhes do Ativo Intangível. Qual a capacidade de geração de lucros futuros daquela unidade? Quais os lucros obtidos nos exercícios subseqüentes à aquisição? (E houve grandes lucros depois da aquisição) Qual a importância estratégica e mercadológica de colocar um pé em Houston, no Texas, coração da indústria de petróleo nos USA? Qual a estratégia da Petrobrás para exportar excessos de combustíveis nacionais aos Estados Unidos? Qual o valor disso tudo? Ninguém informa. Silêncio.
Ainda e por fim, por que tudo foi parar no Judiciário à revelia da própria Petrobrás, apunhalada pelo sócio belga oportunista? E por que o Judiciário do Texas valorou as ações em patamares tão altos, por ocasião da condenação? Ninguém analisou, nem respondeu. Outro silêncio.
Em todo negócio que se faz dessa natureza e com esse panorama é impossível ter todas as variáveis perfeitamente sob controle. Nesse mundo dos negócios, mais do que qualquer outro, o lado negro do capitalismo se apresenta. Fácil às pessoas, depois do fato consumado, atribuir e cobrar falhas. Fácil, também, dizer que houve corrupção, deixando no ar a acusação sem provas concretas e apontamentos do corruptor e do corrompido.
Assim, onde está a verdade? Mesmo sem essa resposta, a realidade é que tudo virou um prato cheio para a oposição, para grande parte da imprensa reacionária e, por surpreendente que possa parecer, para parte do Judiciário brasileiro, todos sedentos para apear do poder a rainha do momento, eleita legitimamente, bem como seu partido.
Os acusadores se saciam nesse banquete, como se fossem puras vestais dos templos romanos da deusa Vesta.
P.S. Este artigo não tem nenhum propósito de defesa da presidente nem de seu partido. Tem, apenas, o desejo de contribuir com a apuração da verdade, hoje tão oculta nos esgotos desta nossa sociedade, para aproveitamento dos ratos.